O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou, nesta sexta-feira (18), que o governo Lula decidiu conceder o asilo humanitário à ex-primeira-dama peruana Nadine Heredia por razões humanitárias.
Nadine e o marido, o ex-presidente peruano Ollanta Humala, foram condenados a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro nesta semana em um caso relacionado ao recebimento de caixa 2 do regime venezuelano e da empreiteira Odebrecht (hoje Novonor) nas eleições presidenciais do país vizinho de 2006 e 2011.
Vieira ressaltou que tratou do pedido de asilo de Nadine "de acordo com o que estabelece a Convenção de Caracas, de 1954", que dita normas para a concessão de asilo diplomático.
— Ela foi recenetemente operada, por um questão grave, de coluna vertebral. Está em recuperação, precisa continuar em tratamento, e estava acompanhada de um filho menor. O marido condenado está detido, portanto, o filho menor também estaria abandonado, desprotegido. Foi com base também em critérios humanitários que o Peru teria concedido o salvo-conduto — disse o ministro em entrevista à Globonews.
Ollanta Humala foi preso ao final da leitura da sua pena, o que contraria a praxe do sistema de justiça peruano. Nadine não compareceu ao próprio julgamento alegando razões de saúde e, logo após a condenação, dirigiu-se à embaixada brasileira em Lima para solicitar o asilo.
— O governo peruano, ao receber a nota do governo brasileiro notificando o fato que ela estava na embaixada e havia solicitado o asilo diplomático, na mesma hora fizeram a nota de resposta com o salvo-conduto. Houve concordância e total aceitação — afirmou o ministro Mauro Vieira.
Vieira ressaltou que o governo da presidente Dina Boluarte, de centro-direita, poderia ter negado o pedido de salvo-conduto feito pelo Itamaraty, mas não o fez. No Peru, a gestão de Boluarte, que não é aliada dos Humala, tem sido questionada pela oposição. Boluarte assumiu o cargo depois que o então presidente Pedro Castillo, eleito em 2021, tentou dar um golpe de estado frustrado e foi preso. Seu governo, que termina em julho de 2026, é marcado por seguidas crises políticas, escândalos de corrupção e uma taxa de aprovação pífia, inferior aos 10%.
— Eles (o governo peruano) podiam negar o salvo-conduto para que Nadine deixasse o território do país, não concordar que ela saísse. Competia a eles — disse Vieira.
Questionado sobre a decisão do governo brasileiro de enviar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para trazer Nadine e o filho de 14 anos ao país, Vieira disse que era a melhor forma de trazê-los em segurança. Segundo o ministro, "tendo solicitado a vinda dela ao Brasil como asilada diplomática, temos obrigação, pelas convenões, de fornecer o transporte".
— Neste caso específico, era a unica forma de tirá-la com segurança e rapidez do país, com a concordância do governo do Peru. Não havia possibilidade que ela viajasse por terra ou por mar com a mesma rapidez. Não havia avião comercial no momento — afirmou. Nadine decolou de Lima a Brasília por volta das 4h desta quarta-feira, horas depois de ser condenada.