"Apegado à vida, mas aberto à vontade de Deus", diz médico que cuidou do papa na última internação

"Apegado à vida, mas aberto à vontade de Deus", diz médico que cuidou do papa na última internação

 


Não era um simples paciente. Em relato à imprensa do Vaticano, o infectologista Carlo Torti — diretor da Unidade Operacional de Doenças Infecciosas e integrante da equipe médica responsável pelo tratamento do Papa Francisco em sua última internação, no Hospital Gemelli, entre fevereiro e março — contou que o Pontífice exerceu um papel fundamental na coesão do grupo de profissionais que o acompanhava. “Apegado à vida”, Francisco demonstrava estar constantemente atento ao mundo e preocupado com as pessoas.

— Ele soube consolidar o nosso grupo, um verdadeiro guia, em diversas ocasiões nos presenteou com Terços da Terra Santa, pois sempre se preocupou com as necessidades dos outros, não apenas com a sua própria integridade física — afirmou o médico, em depoimento à mídia vaticana.

O relato de Torti revela um Francisco atento, mesmo nos momentos de maior fragilidade física. O Papa, que ficou internado com pneumonia bilateral entre os dias 14 de fevereiro e 23 de março, demonstrava preocupação constante com os outros.

— Mesmo nesses momentos, ele tinha bem presente a fragilidade do mundo. O que me surpreendeu foi o fato de, nos seus momentos de fragilidade pessoal, ele usava estas referências para pensar nos outros, nas pessoas mais necessitadas. Evidentemente, a sua dimensão espiritual tendia mais para o próximo — disse.

Segundo Torti, a confiança que o Papa depositava na equipe médica também influenciou positivamente o tratamento.

— Ele também ajudou muito no processo de tratamento. Fomos muito coesos e muito focados em suas necessidades, não só físicas, mas também humanas. A proximidade, o aperto de mão, para ele como para todos os outros pacientes, é algo muito importante — relatou: — Representava também para nós um guia.

Na reunião com o grupo de profissionais do Gemelli, da Universidade Católica e da Direção de Saúde e Higiene da Cidade do Vaticano, em 16 de abril, Francisco, em período de convalescença e já próximo da morte, reforçou o olhar de compaixão.

— Nós fornecemos a ele uma cura, mas ele forneceu uma cura para toda a equipe. Ele se apresentava como um ponto de referência não tanto por sua autoridade, mais por sua credibilidade. Vocês entendem que os grandes são grandes quanto mais se abaixam e se fazem entender pelas pessoas que interagem com eles. Para mim, esta continua sendo uma das características mais importantes do Papa Francisco. Um paciente certamente apegado à vida e ao seu valor, mas também muito aberto à vontade de Deus.

Os problemas de saúde do Papa Francisco
Os últimos problemas de saúde de Francisco tiveram início no começo de fevereiro, quando a Santa Sé anunciou que o Papa realizaria suas audiências dos dias 6 e 7 de fevereiro em sua casa para se recuperar de uma bronquite. Devido à persistência do quadro, no dia 14, o Pontífice foi internado no Hospital Gemelli de Roma, na Itália, para realização de exames e tratamento. Os exames indicaram uma infecção polimicrobiana.

Uma infecção polimicrobiana acontece quando mais de um microrganismo age ao mesmo tempo, entre vírus e bactérias, por exemplo. Os quadros em idosos costumam começar com uma infecção viral, que compromete as defesas do organismo e abre caminho para uma infecção bacteriana secundária, explicou ao GLOBO Alexandre Naime Barbosa, chefe da Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Posteriormente, um novo exame de tomografia computadorizada também mostrou que a pneumonia era bilateral, ou seja, estava afetando os dois pulmões do Papa. O quadro era agravado por Francisco já não ter parte do pulmão, que foi retirada aos 21 anos após um quadro de pleurisia, uma espécie de inflamação que ocorre na pleura, a membrana que envolve os pulmões e a caixa torácica.

Após 37 dias de internação, o Papa Francisco recebeu alta no dia 23 de março. Sua agenda continuou limitada devido à recuperação do quadro, mas o Pontífice chegou a fazer algumas aparições públicas antes da sua morte, nesta segunda-feira. Ontem, no domingo de Páscoa, apareceu pela última vez para desejar “Boa Páscoa” aos fiéis presentes na Basílica de São Pedro.

Conclave
A escolha do sucessor de Francisco será determinada no rito conhecido por conclave, no qual os cardeais eleitores (que têm menos de 80 anos, um total de 135 atualmente) votam em um nome. No entanto, o cardeal bósnio Vinko Puljić, ex-arcebispo de Sarajevo, e o espanhol Antonio Cañizares não participarão do rito "por motivos de saúde". O próprio Puljić, que foi arcebispo de Sarajevo de 1990 a 2022, fez o anúncio ao canal de televisão croata RTL. Já Cañizares, arcebispo emérito de Valência, não comparecerá nem ao funeral, nem ao conclave, de acordo com fontes do bispado valenciano.

A data do conclave, porém, ainda não foi definida. Segundo as normas do Vaticano, a reunião deve começar entre o 15º e o 20º dia após o falecimento, ou seja, entre 5 e 10 de maio.

Então, os cardeais se reunirão na Capela Sistina e realizarão quatro votações por dia, duas pela manhã e duas à tarde, exceto no primeiro dia. As cédulas contendo os votos e as anotações feitas pelos cardeais são destruídas e queimadas pelo camerlengo. A eleição exige maioria qualificada (dois terços dos votos).

A chaminé, que os fiéis podem ver da Praça de São Pedro, emite uma fumaça preta se ninguém ainda tiver sido escolhido. Caso contrário, uma fumaça branca produzida com produtos químicos anuncia ao mundo que "habemus papam".

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem