Trump impõe tarifas ao etanol brasileiro e setor sucroenergético reage com críticas

Trump impõe tarifas ao etanol brasileiro e setor sucroenergético reage com críticas

 

O setor sucroenergético brasileiro reagiu com preocupação à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas recíprocas ao etanol nacional. 

A medida, anunciada na última quinta-feira (13), coloca o biocombustível brasileiro na mira de uma nova rodada de taxações, seguindo a estratégia protecionista do governo norte-americano.

A decisão pode gerar impacto significativo para a economia do Brasil, que tem no etanol um dos seus principais produtos de exportação agrícola. 

Em Pernambuco, onde a indústria sucroalcooleira desempenha um papel central na geração de empregos e renda, o anúncio acende um sinal de alerta para produtores e exportadores.

O presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE) e presidente-executivo da NovaBio, Renato Cunha, criticou a postura dos Estados Unidos e apontou que a política norte-americana em relação ao etanol tem contradições significativas. 

Segundo ele, os EUA demonstram uma preocupação tímida com a descarbonização veicular, pois poderiam aumentar os níveis de mistura de etanol na própria gasolina comercializada no país. 

“Os níveis de mistura do etanol na América do Norte poderiam e deveriam ser muito maiores do que os atuais 10% ou 15%, que são opcionais”, afirmou.

Cunha destacou que, mesmo com um grande mercado interno a ser descarbonizado, os EUA optam por exportar etanol em grande escala para o Brasil. 

Além disso, ele alertou para os impactos dessa dinâmica no Nordeste brasileiro, onde o etanol de milho norte-americano é despejado em larga escala, especialmente durante a safra local. 

“Esse etanol, devido à proximidade logística, é despejado principalmente no Nordeste, mesmo durante a safra canavieira da região, onde se produz o etanol de cana-de-açúcar — considerado pelos próprios americanos um combustível muito superior a qualquer outro tipo de álcool/etanol devido às suas características ambientais”, pontuou.

Dados da consultoria Datagro mostram que, sempre que há um relaxamento das tarifas por parte do governo brasileiro, os volumes exportados pelos americanos superam um bilhão de litros.

"Quando não há tarifa, os EUA chegam a exportar para o Brasil mais de 1,6 bilhão de litros por ano, sendo que mais de 1,2 bilhão de litros são despejados no Nordeste - uma região que produz cerca de 2,2 bilhões de litros por safra. Ou seja, estamos falando de um volume que representa aproximadamente 55% da nossa produção local, comprometendo drasticamente a competitividade da indústria nordestina", alertou Cunha.

Ele também ressaltou que essa prática tem consequências graves para o mercado de trabalho e a economia da região.- -

"Essa invasão do etanol americano arrasa nossos empregos e compromete a renda em mais de 250 cidades do Nordeste, onde o setor sucroenergético gera mais de 250 mil empregos diretos apenas no cluster da cana-de-açúcar."

O dirigente ainda criticou os subsídios concedidos pelos Estados Unidos ao seu setor agroenergético, afirmando que o país opera em desacordo com as normas internacionais de comércio. 

“Os EUA aplicam compensações financeiras e subsídios aos seus produtores por meio da chamada Farm Bill, operando em desacordo com as  'cláusulas de minimis' da Organização Mundial do Comércio (OMC). 

Desde o GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio) dos anos 1940, essas regras visam evitar o protecionismo e distorções no livre comércio mundial”, explicou -

A ofensiva

A Casa Branca argumenta que há um desequilíbrio nas taxações entre os dois países.

Segundo o decreto assinado por Trump, os Estados Unidos impõem uma tarifa de apenas 2,5% ao etanol brasileiro, enquanto o Brasil taxa o combustível norte-americano em 18%.


A medida, segundo o governo dos EUA, busca “corrigir injustiças no comércio internacional”.

O setor brasileiro, no entanto, contesta essa justificativa, apontando que os biocombustíveis dos dois países possuem características distintas.

O etanol produzido no Brasil, derivado da cana-de-açúcar, tem maior eficiência energética e menor pegada de carbono em comparação ao etanol de milho dos EUA, sendo considerado um ativo estratégico na agenda global de descarbonização.

Reação

Em nota conjunta, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) e a Bioenergia Brasil lamentaram a inclusão do etanol no pacote tarifário de Trump. 

“A medida pretende colocar no mesmo patamar o etanol produzido no Brasil e nos Estados Unidos, embora possuam atributos ambientais e potencial de descarbonização diferentes, e portanto não faz sentido falar em reciprocidade”, afirmou o comunicado.

As entidades também destacaram que a decisão norte-americana representa um retrocesso no combate às mudanças climáticas. 

“Esperamos que os estados americanos e a indústria local, comprometidos com o combate à mudança do clima, trabalhem para impedir esse retrocesso proposto pelo governo”, completou a nota.

O governo brasileiro ainda não anunciou uma resposta oficial à medida de Trump, mas há expectativa de que o Palácio do Planalto busque uma negociação para evitar retaliações comerciais mais amplas.

A diplomacia brasileira já vinha tentando reverter tarifas aplicadas ao aço e ao alumínio desde o início do ano.


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