O vice-presidente e minstro da Indústria, Geraldo Alckmin, disse nesta quinta-feira que o Brasil não é problema comercial para os Estados Unidos, ao comentar a decisão de Donald Trump tarifas recíprocas a países que cobram taxas de importação de produtos americanos.
Segundo ele, dos dez produtos que o Brasil mais exporta, quatro estão com tarifas zeradas.
— O Brasil nao é problema comercial para os Estados Unidos. Nós não somos problema comercial e quando analisamos os 10 produtos que mais exportamos para os Estados Unidos, quatro são alíquota zero.
Ele voltou a defender o caminho do diálogo.
— Acho que o caminho é o caminho do diálogo. O caminho do comercio exterior é ganha-ganha, ter reciprocidade.
Em conversas com jornalistas na noite desta quinta, ele repetiu diversas vezes a necessidade de diálogo.
— Estamos levantando todos os dados para começar o dialogo — afirmou. — No caso do aço lá atras de caminhou para cotas, esse pode ser um dos caminhos, mas vamos aprofundar todos esses temas.
Mais cedo, nesta quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um memorando que encaminha a imposição de tarifas recíprocas a países que cobram taxas de importação de produtos americanos. No entanto, a medida não entrará em vigor imediatamente.
Segundo um funcionário da Casa Branca, essa foi uma decisão intencional para dar tempo às nações de negociarem novos termos comerciais com os EUA.
O memorando determina que os assessores do presidente avaliem as práticas comerciais de cada país para definir que tipo de taxação recíproca os EUA pretendem aplicar.
A sequência de taxações faz crescer os temores sobre a escalada de uma guerra comercial global.
O presidente americano reconheceu que "os preços podem subir" nos EUA devido às medidas.
A decisão de Trump indica que a análise das práticas comerciais dos países não será baseada apenas nas tarifas que eles impõem a produtos dos Estados Unidos em seus mercados.
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Também serão considerados os impostos que esses países cobram sobre produtos estrangeiros, os subsídios que concedem às suas indústrias, suas taxas de câmbio e outros comportamentos que o presidente americano considera injustos.
Ou seja, os EUA vão avaliar barreiras tarifárias e não-tarifárias a seus produtos nos mercados de seus parceiros comerciais para basear a retaliação prometida por Trump.
Estudos serão concluídos até abril
A ordem de Trump instrui o representante e o secretário de Comércio dos
EUA a propor novas taxas por país, em um esforço para reequilibrar as
relações comerciais — um processo abrangente que pode levar semanas ou
meses para ser concluído.
Howard Lutnick, indicado por Trump para liderar o Departamento de Comércio, disse aos repórteres que todos os estudos devem ser concluídos até 1º de abril e que o presidente poderia agir imediatamente depois disso.
— Se nos impuserem uma tarifa ou imposto, nós impomos exatamente o mesmo nível de tarifa ou imposto, é simples assim — afirmou Trump no Salão Oval da Casa Branca, acrescentando: — Os aliados dos EUA costumam ser piores que nossos inimigos em nível comercial, acrescentou.
Semicondutores no alvo
Trump disse a repórteres que imporia taxas de importação sobre
automóveis, semicondutores e produtos farmacêuticos “além” das tarifas
recíprocas em uma data posterior.
Ele citou barreiras na União Europeia, incluindo o imposto sobre valor agregado (IVA), como um exemplo daquilo que os EUA pretendem responder.
Japão e Coreia citados
O memorando assinado por Trump menciona Japão e Coreia do Sul como
países que, em sua visão, estão se aproveitando dos EUA e que, portanto,
poderiam ser alvos dessa nova iniciativa.
Entre os exemplos citados no memorando, está a tarifa cobrada pelo Brasil sobre as exportações de etanol dos EUA, de 28%.
A tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%. Como resultado, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto os EUA exportaram apenas US$ 52 milhões em etanol para o Brasil.
As tarifas recíprocas representariam a ação mais ampla de Trump para lidar com os déficits comerciais dos EUA e com o que ele classifica como tratamento injusto às exportações americanas no mundo.
Trump já impôs tarifas de 10% sobre produtos chineses e planeja aplicar uma taxa de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio dos EUA no próximo mês.
Trump já afirmou que a medida se aplicaria a países que, em geral, possuem uma média de tarifas sobre os produtos dos EUA mais alta do que a adotada por eles. A ideia do republicano é igualar o nível das taxas.
Em tese, isso afetaria mais duramente os países em desenvolvimento, como a Índia, o Brasil, o Vietnã e outras nações emergentes do Sudeste Asiático e da África.
No Brasil, a tarifa média de importação sobre produtos americanos é de 12% a 13%, segundo especialistas, enquanto a média dos EUA para os itens brasileiros é de 3%.
Trump anunciou sua decisão poucas horas antes de receber o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, cujo país será afetado por tarifas recíprocas mais do que muitos outros grandes parceiros comerciais.
Trump tem criticado repetidamente as altas barreiras tarifárias da Índia.
Anúncio na rede social pela manhã
Com o anúncio, ele cumpre uma promessa feita horas antes nas redes sociais pela manhã.
"TRÊS ÓTIMAS SEMANAS [de governo], TALVEZ AS MELHORES DE TODOS OS TEMPOS, MAS HOJE É A GRANDE SEMANA: TARIFAS RECÍPROCAS!!! FAÇAM A AMÉRICA GRANDE NOVAMENTE!!!", escreveu em letras maiúsculas na plataforma Truth Social.
Diante da perspectiva do anúncio, o dólar reduziu as perdas. E as moedas das economias no centro das tensões comerciais com os EUA reagiram imediatamente, com o euro diminuindo os ganhos e o peso mexicano ficando atrás das principais moedas em relação ao dólar até o momento.
Na segunda-feira, Trump impôs tarifas de 25% para todas as importações de aço e alumínio do país, com a justificativa de priorizar a indústria americana. Uma decisão que pode prejudicar o Brasil, um dos principais exportadores de aço para os EUA.